A beleza e exuberância da Serra da Ventania – Alpinópolis

Serra da Ventania
Foto: Dener Moreira

A Serra da Ventania, um dos principais cartões postais de Alpinópolis, integra um verdadeiro marco constitutivo de identidade local, em razão da sua importância histórica, paisagística e simbólica. Foi ao pé desse monumento natural que, no final do século XVIII, os primeiros habitantes do futuro arraial se instalaram, com rancharia assentada perto de uma gruta e às margens de um ribeirão, segundo conta o historiador José Iglair Lopes.

Não é sabido, ao certo, o que ganhou primeiro o pitoresco nome de Ventania. Se a serra ou a propriedade – Sítio/Fazenda Ventania – ali registrada nos primórdios, porém é evidente que a denominação veio do contato direto com que as brisas varriam – e ainda varrem – a paisagem montanhosa desse quinhão mineiro. Logo nasceu o arraial de São Sebastião da Ventania, que em 1914 virou Alpinópolis, mas continua Ventania na intimidade dos moradores e visitantes mais chegados. Como diz o próprio hino da cidade, de autoria do saudoso Omar Kraüss, “teu sinônimo que é Ventania, não no mapa, mas no coração”.

A Serra da Ventania, cuja crista ostenta um cruzeiro fincado pelos fiéis católicos em 1959, compreende diversos pontos considerados especiais para o povo de Alpinópolis. Para citar apenas alguns, ali estão, além dos meandros do Ribeirão Conquista, a Gruta, o Tanque e a Escultura. Tudo envolvido por uma moldura ecológica preciosa, visto que se situa em uma região de ecótono – mescla dos biomas Cerrado e Mata Atlântica – que dá características ímpares ao território. Embora a área que abriga a serra seja uma propriedade particular, ali sempre foi franqueado o acesso de turistas, banhistas e amantes da natureza.

Escultura
Foto: Glauco Lima

No interior da montanha encontram-se dois tesouros onde a água esculpiu, na rocha, genuínas obras de arte. Bem no alto está o lugar conhecido como Escultura, cujos poços, grutas e corredeiras foram lavrados pela água que brota de minas localizadas no cume da serra e é despejada em uma cachoeira colossal que pode, inclusive, ser vista de vários pontos da cidade. Quase no sopé está o Tanque, onde a formação começa justamente pela caída do referido salto e segue morro abaixo, também fazendo o entalhe da pedra, moldando piscinas e banheiras naturais até desaguar no Ribeirão Conquista.

Cachoeira do Tanque
Foto: Dener Moreira

Apesar de compor seu conjunto paisagístico, a Gruta não fica exatamente nas entranhas da Serra da Ventania, estando do outro lado do ribeirão, praticamente colada à cidade. Alpinópolis é dos poucos municípios que contam com uma queda d’água com essas proporções – são 14m aproximadamente – dentro de sua zona urbana. Um privilégio. Porém o local está muito mal cuidado e praticamente não oferece condições de ser frequentado, já que o córrego que abastece a cachoeira recebe esgoto doméstico in natura, o que acaba provocando um mau cheiro insuportável. Contudo, nem sempre foi assim e muitas pessoas, em épocas não tão remotas, tomavam banho nessas águas e nadavam no pequeno poço que se forma embaixo da queda.

O descaso com a Gruta chega ser afrontoso, não apenas pelos aspectos ambientais e turísticos, mas também por envolver questões culturais e religiosas. Foi nesse lugar que supostamente, há cerca de 120 anos, apareceu a Santa da Ventania, acontecimento que atraiu romarias de numerosas partes de Minas Gerais e de outros estados, que ali passaram a chegar em busca de curas milagrosas. Assim, no decorrer dos anos, foi-se criando o hábito de levar até o local imagens de santos, roupas, objetos pessoais – incluindo muletas e óculos – quase sempre lá deixados como comprovação de alguma graça alcançada. Outra crença alimentada por muito tempo era a de que o limo retirado do paredão, conhecido como Barro da Gruta, possuía propriedades medicinais.

Cachoeira da Gruta
Foto: Reprodução

No entanto, em função do mencionado problema sanitário, entre outros fatores, essas práticas foram se tornando cada vez mais raras, chegando quase a desaparecer. Atualmente são poucas as pessoas que ainda insistem em ir à Gruta. As visitas se resumem praticamente ao dia 12 de outubro, quando é comemorado o Dia da Padroeira do Brasil e no local, onde existe uma capela, é realizada uma missa. Todos os anos, após a celebração, muitos fiéis inconformados não economizam nas críticas, principalmente por meio das redes sociais, protestando sobre a situação de abandono e direcionando cobranças à concessionária que presta serviços de coleta e tratamento de esgoto na cidade, assim como ao poder público municipal.

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