Dez anos da morte do dramaturgo alpinopolense Zé Vicente

Dramaturgo Zé Vicente Alpinópolis

Neste 2017 completaram-se dez anos da morte de um dos mais geniais artistas alpinopolenses. Em 22 de setembro de 2007 falecia, aos 62 anos, o dramaturgo José Vicente de Paula ou simplesmente Zé Vicente, nome de peso da dramaturgia dos anos 70 e autor de pérolas do teatro como “O Assalto” e “Hoje é Dia de Rock”.

Zé Vicente nasceu na roça, no bairro rural Angola, em Alpinópolis. Foi seminarista em Guaxupé, dos 12 aos 19 anos, vendeu doces na rua, foi bancário e professor de História. Depois trocou Minas por São Paulo e formou-se em Filosofia pela USP, estreando como dramaturgo em 1969.

O diretor teatral carmelitano Gabriel Villela que, diga-se de passagem, tem um pé na Ventania – sendo sobrinho do antigo líder político Isaac Bento Vilela -, dirigiu a peça “Ventania”, um musical escrito por Alcides Nogueira e que tem Zé Vicente como homenageado. A peça estreou em 1996 e é um merecido resgate ao nosso ilustre concidadão que, injustamente, foi colocado à margem do espaço teatral nos anos 90. Apesar do nome sugestivo para qualquer alpinopolense, “Ventania” não foi uma peça biográfica e nem uma referência direta a Alpinópolis, mas sim uma obra que propiciou uma boa leitura do conturbado universo do dramaturgo. Conta a história de uma família, com uma mãe morta que renasce para narrar sua trajetória, e de seus três filhos, sendo orientada por uma força divina que trazia o vento.

OBRA DE ZÉ VICENTE

O artista teve sua primeira peça, denominada “Santidade”, proclamada pela crítica como “um modelo de pureza” e pelo governo militar como “subversiva e desrespeitosa”. Em plena ditadura foi agraciado com os principais prêmios da época: Molière, Golfinho de Ouro e Associação Paulista de Críticos Teatrais – APCT.

Em 1971 chega ao ponto máximo de seu sucesso com o espetáculo “Hoje É Dia de Rock”, peça que permaneceu por longo tempo em cartaz no Rio e em São Paulo. Com este texto, recebeu seu segundo Prêmio Molière.

Em 1974 foi a vez da peça “Ensaio Selvagem”, com direção de Rubens Corrêa, e em 1977, Ivan de Albuquerque dirigiu “A Chave das Minas”. Ainda nos anos 70 escreveu “Última Peça” e “História Geral das Índias” e, no final da década, foi viver na Europa com a intenção de não mais voltar ao Brasil. No entanto não logrou ficar longe das terras tupiniquins e voltou nos anos 80, apresentando três novas peças: “Diário Íntimo”, “RocknRoll” e “Fim de Século”.

Passou por tempo conturbado quando as dúvidas da fé o atormentavam e, nessa fase, permaneceu um grande período recluso e sem escrever para teatro. Em 1982, declarou-se convertido ao cristianismo e publicou sua autobiografia, “Os Reis da Terra”.

Morreu aos 62 anos, durante o sono, de parada cardíaca, em sua casa na capital paulista. O historiador José Iglair Lopes dedicou, em seu livro “História de Alpinópolis”, capítulo especial a Zé Vicente.

Talvez a melhor definição da arte do brilhante dramaturgo alpinopolense tenha sido a dada pelo crítico Yan Michalski, que disse: “O Zé Vicente é um artista livre. Ele escreve sem se preocupar com técnica, crítica, público ou até mesmo com uma coerência, formal ou temática. (…) Acontece que ele é um ser mutante, e se assume como tal. Por isso, em cada peça nos entrega apenas uma faceta de sua complexa estrutura humana, aquela faceta que no momento de escrever calhou ter aflorado à superfície da sua sensibilidade”.

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