Ventania, o Arraial do Toco – 1938

Por volta de 1924, uma estrada entre Ventania e Passos foi improvisada no leito do corredor para a passagem do Fordinho Bigode pertencente a José Sebastião Moreira, conhecido por Nonzé, filho do professor José Bernardino de Vasconcelos, morador em Passos. O Fordinho era equipado com três pedais para marchas, rodas com raias de madeira, buzina de fora, capota conversível. As peripécias da viagem de Passos a Ventania foi contada por Antônio Gonçalves Sallum e publicada no jornal Correio dos Alpes em 30 de abril de 1988.

Entre 1930 e 1938, os moradores de Ventania pleiteavam melhorar as estradas, interligando os municípios confrontantes para justificar o pedido de emancipação política junto ao Governo de Minas. O empreendimento envolvia gastos, portanto, sem interesse das autoridades políticas de Nova Resende em atender à reivindicação do Distrito. Diante disso, alguns fazendeiros resolveram construir a estrada por conta própria e assim, na base da carroça, de pá, picareta, enxada e enxadão, fizeram o alargamento da estrada boiadeira onde, anos atrás, havia passado o Fordinho do Nonzé. Para ressarcir as despesas, os fazendeiros usaram um pedágio bastante interessante. Fecharam as estradas do arraial com um toco, passando a controlar o movimento de veículos. A geringonça era feita em duas peças de madeira, com dobradiças grandes de ferraria, presa por um cadeado. O tronco-mestre, plantado bem no meio da estrada, impedia a passagem dos veículos. Assim que o empregado recebia, abria as duas partes do toco arreando as peças no chão, dando passagem ao veículo. Era o “tomadô de conta”, que contratava os meninos para controlar o pedágio e aguentar as broncas dos viajantes, pois o dono mesmo nunca aparecia.

A chegada de Passos era pela Serra da Goiabeira. Ganhava o alto entrando pela atual Rua Rondônia, passando pelos fundos do campo de futebol, descendo à Rua Monsenhor João Pedro, rumo à ponte, onde entrava numa cava funda, subindo até cruzar com a Rua Belo Horizonte, para chegar ao Largo da Matriz. O toco ficava na subida da cava, entre a ponte e a Rua Belo Horizonte.

Na chegada de Carmo do Rio Claro, assim que subia a serra, ao se aproximar das terras de Antônio Valeriano, havia um mata-burro na divisa do Patrimônio; ali ficava o toco. Do lado direito, a estrada boiadeira, do lado esquerdo, a 60m ficava a casa e venda de D. Leopoldina, esposa de Antônio Valeriano e encarregada do pedágio, hoje, no final da Rua Aracaju, Bairro Rosário.

Antônio Valeriano Filho no local do TOCO,
atualmente final da Rua Aracaju, no Rosário.

Antônio Valeriano Filho, filho de Antônio Valeriano de Brito e D. Leopoldina Cândida de Jesus, foi respeitável capitão de Moçambique e Cavalhada por muitos anos. Era ajudante da mãe no serviço do pedágio. Passando o toco, a estrada contornava à esquerda, passando ao pé do morro onde, no alto, fica o cruzeiro do Joaquim Romão, e, descendo pela encosta, passando pelo cemitério velho, no Largo do Rosário, até chegar ao Largo da Matriz.

A uns trinta metros da pequena ponte, entrando pela Rua Sebastião Cardoso Sobrinho, na casa de n. 50 (que ainda existe), moravam os “mudinhos” Quim, Tião, Gusto e Tõe. Os quatro irmãos tinham boa audição e, durante a passagem da jardineira e dos carros, lá estavam eles de mãos estendidas recebendo a generosidade dos motoristas e passageiros.

Nesta época, chega de Passos um Fordinho 1929, de um tal Jacometi, conduzindo um turco para mascatear no arraial. Ao topar aquela geringonça no meio da estrada, xingou, xingou, e o menino, assustado, assim que recebeu o pedágio, arriou as peças do toco, e o Fordinho passou bufando rumo ao Largo da Matriz. E o turco, mala na mão, mercadoria no ombro, negociou pelo arraial até a tarde. Ao voltar para Passos, antes fez o Fordinho dar algumas voltas no Largo da Matriz gritando: VENTANIA, ARRAIAL DO TOCO!

A notícia se espalhou pela região, trazendo preocupação aos políticos que lutavam pela emancipação do município. Para abafar o assunto, imediatamente acabaram com o pedágio, arrancaram o toco, colocando porteiras nas divisas do arraial com o Patrimônio, prática usada na época para manter o controle da passagem de animais.

Referências bibliográficas:

LOPES, José Iglair. História de Alpinópolis: nos séculos XVIII, XIX e XX, até 1983/José Iglair Lopes; colaborador: Dimas Ferreira Lopes. – Belo Horizonte: O Lutador, 2002.

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