Um balanço “meio mineiro” do Brasileirão 2012

No final desse Campeonato Brasileiro, retumba por todo o país a pergunta que não quer calar: quem levantou a taça foi realmente a melhor equipe da competição?

Analisando a pontuação elevada alcançada pelo Tricolor das Laranjeiras, com boa folga em relação  ao Galo Mineiro, segundo colocado, a resposta não poderia ser outra senão um alto e sonoro SIM.

Portanto,  sob uma análise mais meticulosa e técnica,  não seria justo responder com tanta certeza assim, até porque o Fluminense não convenceu no confronto direto com os times que terminaram no seleto G4. Nos jogos que disputou com o Atlético Mineiro, por exemplo, conseguiu apenas um mirrado empate dentro de casa. Porém, mostrou indiscutível competência na maioria das partidas decisivas o que não deixa dúvida de sua qualidade e estratégia no decorrer da competição.

Todavia, a verdade seja dita: não poderíamos, nesse artigo, abafar a extensa lista de erros de arbitragem a favor da equipe carioca e, porque não dizer, as nebulosas jogadas de bastidores. Esse já tão conhecido “empurrãozinho” aos grandes times de São Paulo e Rio de Janeiro se tornou uma coisa tão normal e corriqueira, que não deixa mais ninguém surpreendido. Infelizmente, o torcedor brasileiro já aceita esse tipo de anomalia com naturalidade, a exemplo de tantos outros absurdos que sangram nosso país, como desvio de dinheiro público, abuso de poder e compra de votos. Tudo pode ser explicado com a nojenta frase “as coisas são assim mesmo”. Mas falemos apenas de futebol.

OS CLUBES MINEIROS

O cruzeirense Nélio
“O time começou o campeonato bem, mas depois perdeu a constância e a irregularidade comprometeu demais o rendimento. Faltou no Cruzeiro um meia de qualidade, que poderia ser buscado nas categorias de base do time, o que não foi feito. Para 2013, sinceramente, acho que o segredo para melhorar a equipe está justamente aí, ou seja, montar um time competitivo com atletas da base. Tomara que o novo técnico tenha essa visão e coloque o Cruzeiro novamente para brigar por títulos.”

A equipe do Cruzeiro Esporte Clube, que bem no princípio do campeonato chegou a ser cogitada como uma das candidatas ao rebaixamento pela Revista Placar, mesmo realizando partidas com questionável qualidade técnica, recuperou-se e alcançou até uma razoável colocação na tabela (considerando o futebol que apresentou), terminando o certame em 9º lugar. Problemas financeiros, contratação de jogadores medianos e a aposta em um técnico considerado retranqueiro, parece ter traçado o caminho do sofrível desempenho da equipe celeste na temporada, tendo sido eliminado da Copa do Brasil nas oitavas de final pelo Atlético-PR e não conseguindo chegar nem à final do Campeonato Mineiro. Ponto pacífico sobre a fraca campanha do time é atribuir a culpa à diretoria celeste. Em 2013, a palavra de ordem dentro da Toca da Raposa deve ser REORGANIZAÇÃO. Desde a saída dos Perrellas, que ocorreu em meados de 2011, o time perdeu o norte e as coisas foram de mal a pior. Com eles, o Cruzeiro conquistou 22 títulos, sendo os mais importantes a Libertadores de 1997 e o Brasileiro de 2003. Há que olhar a situação com humildade e reconhecer que a atual direção do time é fraca e o resultado disso foi espelhado na péssima campanha apresentada pela equipe em 2012. A direção de futebol foi buscar jogadores, como Martinuccio por exemplo, que só apareceram na reta final da competição. Como se não bastasse, não poderia haver um encerramento pior para  a equipe azul do que a contratação de Marcelo Oliveira para treinar o time. A fanática torcida já deu o grito e não gostou nada da novidade. Para quem não sabe, o novo comandante cruzeirense tem uma ligação forte com o Atlético, onde já atuou como jogador e treinador. O Cruzeiro precisa rever conceitos e voltar em 2013 a ocupar as primeiras posições nas tabelas de classificação das competições que irá disputar, lugar que pela grandeza do clube, lhe pertence por direito.

 

O atleticano Baterna
“O Galo teve um ótimo desempenho este ano, atuando com um time competitivo que foi resultado de boas contratações e valorização dos jogadores da base. No segundo turno aconteceu uma queda no rendimento e o time perdeu pontos importantes para equipes que eram consideradas fracas, o que comprometeu a busca pelo título. Mas, em minha opinião, o Atlético foi o melhor time do campeonato e as expectativas para 2013 são as melhores.”

Já o Clube Atlético Mineiro, ao contrário, tem muito que comemorar no desfecho deste 2012. Depois de trazer de volta a hegemonia em Minas Gerais, ao conquistar de forma invicta o Campeonato Mineiro, o Galo voltou a passear pelas primeiras posições da tabela do Brasileirão, sendo que permaneceu por 15 rodadas na primeira colocação e brigou bravamente pelo título até as rodadas finais.

A chegada de Ronaldinho Gaúcho, que de forma surpreendente e na hora certa, veio sanar uma carência grave da equipe, serviu também para motivar a massa atleticana e trazer inspiração a outros jogadores, com destaque para o garoto Bernard, que tornou-se peça chave na equipe alvinegra. Quando R49 foi contratado por Alexandre Kallil, grande parcela da imprensa brasileira colocou em dúvidas o futuro da carreira do craque. Uns falaram que ele não daria a volta por cima, outros chegaram ao absurdo de afirmar que o presidente precisava mesmo era se tratar em um hospício.

Não podemos esquecer que houve também uma monstruosa desconfiança de boa parte da torcida atleticana que temia uma vida desregrada do craque na badalada vida noturna belorozontina e, fatalmente, um fracasso nos gramados. Ronaldinho calou a boca de todos. No Galo voltou a mostrar a sua incontestável qualidade técnica, uma personalidade extremamente carismática e a obstinada gana de jogar em alto nível, provando que ainda tinha intimidade com a bola. Em menos da metade de um ano, deixou a torcida atleticana a seus pés e se tornou um ídolo da estatura de Dario, Reinaldo, Éder e Marques.

A equipe montada pelo técnico Cuca, devolveu à torcida atleticana o prazer de assistir aos jogos com a confiança na vitória e a incontrolável satisfação de abarrotar o estádio, cantando orgulhosamente o hino do clube.

Peça fundamental para o sucesso do Galo: Alexandre Kalil. Esse foi o presidente que provocou uma reviravolta no cenário antes existente no clube, que vinha de experiências escabrosas, de dívidas e vexames. O Atlético voltou a ser destaque, não apenas de alcance nacional, mas em todo o mundo devido ao seu desempenho em campo como também, claro, à presença do ícone internacional Ronaldinho Gaúcho. Ao que tudo indica, essas mudanças não param com o fim do Brasileirão, pois se descortina para 2013 gordos investimentos e estratégicas contratações para fortalecer a equipe que disputará a Copa Santander Libertadores da América.

 

O FANTASMA DA SÉRIE B

O palmeirense Paulinho 
“Esse rebaixamento não é resultado de um problema isolado, mas de uma série de fatores que levaram a ele. Acho que o principal foi a teimosia da diretoria em manter o Felipão quando deveria ter dispensado há muito tempo. Outra coisa foi o problema com o elenco, onde diversos jogadores que deveriam ser mantidos foram mandados embora e vice-versa. Espero que a diretoria reconheça isso e use o aprendizado para sanar as falhas e colocar o time novamente na série A em 2013.”

A grande surpresa do campeonato foi a queda do tradicional time do Palmeiras, pela segunda vez, à Série B. Mesmo faturando a Copa do Brasil e com um treinador considerado de alto nível como Luís Felipe Scolari em sua direção, a equipe do Parque Antártica não conseguiu se estabilizar e, com fracas atuações, sucumbiu aos adversários e foi rebaixada inapelavelmente.

Dez anos se passaram e o alviverde imponente está no mesmo lugar onde estava em 2003. Se o clube espera aproveitar essa temporada na Série B para se reestruturar, terá que aprender com os próprios erros, apresentados seguidamente durante a última década.

Outros clubes grandes do futebol brasileiro passaram pelo drama de deixar a elite e atuar na temida segunda divisão e a maioria deles conseguiu dar a volta por cima não apenas com o título da Série B, mas também com um renascimento. Um exemplo emblemático é o de seu maior rival, o Corinthians, campeão da Copa do Brasil, do Brasileirão e da Libertadores nos quatro anos seguintes à disputa da segunda divisão. Vale a pena analisar o exemplo do Timão em seu passeio pela Série B, que aprendeu com os erros e soube entender que a queda fez bem ao marketing corintiano, serviu para promover uma reaproximação do torcedor, faturar alto e aproveitar para fazer investimentos pesados na equipe.

Vão no vácuo do Verdão para disputar a segundona o Sport, Atlético-GO e Figueirense. Em contrapartida, teremos na Série A o retorno do Goiás (campeão da Série B), do Atlético-PR, do Criciúma e do Vitória.

BRASILEIRÃO 2013

Com o panorama de ascensos e descensos, em 2013 teremos cinco clubes representando o estado de São Paulo, quatro do Rio de Janeiro, dois de Minas Gerais, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. Já os estados de Santa Catarina, Pernambuco e Goiás terão um representante cada.

Por Lucas Bachião

Estudante de jornalismo da PUC-Campinas 

Leave a Reply