O médico Dr. Rafael Flora Malzone

Praça Matriz em 1957, época em que Dr. Malzone clinicava em Alpinópolis.
Alpinópolis em 1957, época em que Dr. Malzone clinicava.

Dr. Malzone, natural de Nova Resende, médico formado em Curitiba-PR, chegou em Ventania no ano de 1926. Foi morador do casarão de Francisco Quirino dos Reis, hoje pertencente aos familiares de Albertino Gonçalves dos Reis, em cuja frente havia uma grande paineira. Antes, porém, se hospedou na “Pensão da Sá Chica Pedreira”. Foi ele quem trouxe o primeiro rádio para Ventania. Durante a Revolução de 1930 colocava o rádio na janela e o povo, sentado na grama, ouvia as notícias debaixo da paineira.

Depois comprou uma casa velha na antiga Rua Coronel Rosendo nº 57. Essa rua, atualmente, leva o nome de Antônio Anacleto Rezende (sogro do ex-prefeito Osvaldo Américo dos Reis e avô do também ex-prefeito Edson Luiz Rezende Reis) que, por muitos anos, exerceu habilmente o ofício de farmacêutico na cidade, estando sua “Pharmacia Santo Antônio” estabelecida na Avenida Governador Valadares, esquina com a Rua Major João Gonçalves. Seu Toninho, como era conhecido o farmacêutico, foi o responsável pela vinda do Dr. Malzone para Ventania. A Chiquita Capetinga, morena, alta, magra, papuda, era a empregada da residência do médico e aproveitava o tempo vago para fabricar bonecas de pano.

Antônio Anacleto Rezende (à esquerda) foi o responsável pela vinda do Dr. Malzone para Ventania.
Seu Toninho (à esquerda) foi o responsável pela vinda do Dr. Malzone para Ventania.

Dr. Malzone morou em Ventania durante 44 anos, passando a maior parte de sua vida nesta casa, clinicando competentemente mesmo após acometido de cegueira total. Faleceu em 08 de maio de 1970, solteiro. Seus restos mortais foram trasladados em 10 de março de 1980 para o cemitério de Guaxupé-MG, conforme documento assinado pelo seu parente, o bispo Dom Hermínio Malzone Hugo. O documento foi passado na Prefeitura de Alpinópolis e foram testemunhas Benedito Gonçalves de Faria e José Orlando de Oliveira Reis. Infelizmente (e injustamente) não há em Alpinópolis o nome deste ilustre cidadão, que tanto contribuiu para a saúde do povo, em nenhum prédio público ou rua.

Entre os documentos arquivados pelo saudoso médico Dr. Hélio Ferreira Lopes, acha-se um texto datilografado, datado de 05 de maio de 1970, guardado como mensagem final do Dr. Malzone ao povo de Ventania, ditado três dias antes de morrer. O documento não está assinado, mas segundo depoimento de Alberto Gonçalves de Carvalho, amigo fiel que o acompanhou durante toda a doença, pelo estilo e vocabulário indiscutivelmente é do Dr. Malzone:

“Ao Povo de Alpinópolis

Nêste tempo, que antevejo curto, antes do separar-me definitivamente de vosso convívio, quero agradecer-vos a amizade, o carinho e a afeição.

Dêste leito de dor, donde, muitas vezes, com a ajuda de Deus, vos pude livrar e donde prevejo que não sairei, senão para Deus, espero reter-vos todos, na retina de minha gratidão.

Aos habitantes de Alpinópolis e a tôdas as famílias desta cidade, residentes em Belo Horizonte e outras cidades, o meu abraço agradecido e amigo.

Alpinópolis foi-me sempre a cidade de minha vida, de meus trabalhos, de minhas alegrias.

Mas não se ama uma cidade pelo que ela é, na sua topografia, no seu clima, na sua beleza natural. Ama-se, pelo encanto de sua gente, pela grandeza de seu povo, pelo carinhoso afeto de seus habitantes.

Que todos me perdoem as faltas, mas que todos se convençam de minha gratidão, de meu amor, de minha sincera e grande amizade.

Dr. Rafael Malzone

Alpinópolis, 5 de maio de 1970.”

 

Referência Bibliográfica: LOPES, José Iglair. História de Alpinópolis: nos séculos XVIII, XIX e XX, até 1983/José Iglair Lopes; colaborador: Dimas Ferreira Lopes. – Belo Horizonte: O Lutador, 2002.

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