O médico alpinopolense Hélio Ferreira Lopes

“O médico que só sabe de medicina, nem de medicina sabe”

(Abel Salazar)

Dr. Hélio Ferreira Lopes

A autoria da frase acima pertence a um médico-artista português do século XIX, homem que teve sua trajetória lembrada pela total dedicação à profissão e incondicional amor ao próximo. Assim como a bela cidade lusitana do Porto, onde viveu e trabalhou Salazar, Alpinópolis também teve seu anjo da guarda de estetoscópio e seu nome era Hélio Ferreira Lopes. Esse abnegado profissional marcou a vida de muitas famílias por quase 40 anos de devoção à medicina, atendendo ricos e pobres, sem a mínima preocupação se iria ou não receber pelos serviços prestados. Faleceu em 29 de março de 1984, tendo sido seu féretro acompanhado por uma multidão chorosa de alpinopolenses. Foi sepultado debaixo de uma forte e repentina chuva que parece ter caído para lavar as dores daquela gente que deixava ali o corpo de seu benfeitor.

Homem culto, dedicado à família, grande orador, apreciador de música erudita e atleticano roxo. Assim era Dr. Hélio nos momentos em que não estava imerso em sua missão de cuidar dos enfermos. Por muito tempo, quando não havia nenhum posto de atendimento hospitalar em Alpinópolis, sua residência funcionou como uma espécie de pronto-socorro onde eram improvisados leitos para acomodar os pacientes, principalmente os da zona rural. Após a construção de um pequeno hospital no ano de 1969, local onde atualmente funciona a APAE, seu domicílio seguiu sendo praticamente um centro de triagem para as modestas acomodações de saúde recém edificadas.

A POLÍTICA

Dr. Hélio tinha a política correndo em suas veias. Apesar de ter seu posicionamento político, era uma figura quase suprapartidária, com bom transito entre “udenistas” e “pessedistas”. Isso o permitiu servir com honra seus dois mandatos como vereador, dos quais o último não chegou a terminar. A música usada em sua campanha eleitoral de 1982 era nada mais nada menos que “O que é, o que é”, talvez o single mais conhecido de Gonzaguinha, que permeava o discurso político com os inesquecíveis versos:

Viver! E não ter a vergonha de ser feliz.

Cantar e cantar e cantar. A beleza de ser um eterno aprendiz.

HOSPITAL CÔNEGO UBIRAJARA CABRAL

Discurso Dr. HélioEm 1984, mais precisamente no data de 21 de janeiro, Dr. Hélio talvez tenha proferido um dos mais emocionantes e importantes discursos de sua vida. Nesta oportunidade foi inaugurado o Hospital da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Alpinópolis, obra principiada em 30 de julho de 1979. A solenidade se iniciou com o Hino Nacional e, após a entrega das chaves do prédio pelo então Revmo. Cônego Ubirajara Cabral ao representante da irmandade Dr. Eloy de Faria Neto, Dr. Hélio brindou os presentes com sua apurada eloquência através do discurso que, aqui, reproduziremos em parte:

“Quando ao convite a mim dirigido pelos amigos organizadores desta programação, me senti pequeno para desempenhar este mister diante à grandeza desta festa. Mas, no torvelinho de idéias me veio à tona as palavras de São Lucas, o médico, no capítulo 1 de seu evangelho: ‘E naqueles dias, levantando-se Maria, foi apressada às montanhas na terra de Judá, entrando em casa de Zacarias, saudou sua prima Isabel e João Batista saltou no seu ventre, de alegria pela anunciação do nascimento da grande nova’. Quando do encerramento da festa de São Sebastião de 1979 acorreram à minha casa diversos amigos e me disseram, Hélio, você foi um dos escolhidos pelo Padre Ubirajara para festeiro geral na festa de 1980 que servirá para ajudar na construção de nosso hospital. As guardas da casa tremeram, a consciência e o dever saltaram de alegria e eu pensei e refleti, não só por São Sebastião, mas por todos os santos em Cristo Nosso Senhor, eu aceito.

(…)

Para a construção deste hospital entrou uma comunidade onde a inflação era invertida, os que tinham tudo não deram nada e os que nada tinham deram tudo. Sacerdote de coração bradicardíaco, de pancadas leves, compassadas de um som doce e musical ao batizar uma criança, ao dar uma benção a um casal no matrimônio, ao consolar os entes queridos na passagem para o mundo dos espíritos. Coração taquicardíaco, acelerado, galopante em suas teimosias construtivas e no rechaço aos petardos e obuses do farisaísmo tupiniquins das praças e esquinas, de língua solta e maldizente.

(…)

Cônego Ubirajara, em terminando, quisera eu ter não só dois braços, mas os tentáculos de um polvo para abraçá-lo pessoalmente e eu fazendo, tenho certeza de que o meu, o nosso povo o faria agradecidamente.

HOMENAGENS

No hall de entrada do Hospital Cônego Ubirajara Cabral podem ser vistos retrato e placa homenageando Dr. Hélio. Seu nome também foi dado ao Centro de Estudo Supletivo de Alpinópolis – CESU e ao posto de atendimento do Programa de Saúde da Família V (PSF do Centro).

Referências bibliográficas: 
 
LOPES, José Iglair. História de Alpinópolis: nos séculos XVIII, XIX e XX, até 1983/José Iglair Lopes; colaborador: Dimas Ferreira Lopes. – Belo Horizonte: O Lutador, 2002.
FARIA, Eloy de Faria. Monsenhor Ubirajara Cabral – Apascenta as Ovelhas de Alpinópolis/Eloy de Faria Filho – Alpinópolis: 2000.

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