O deputado alpinopolense Silvestre de Lima

No rol dos alpinopolenses ilustres o nome de Silvestre de Lima merece destaque por sua relevância, principalmente, nos âmbitos da política, da imprensa e das artes. Como político exerceu o cargo de deputado estadual e foi prefeito da cidade paulista de Barretos, além de ter militado ao lado de notáveis figuras em prol da abolição da escravatura no Brasil. Como jornalista atuou em grandes periódicos de circulação nacional como A Gazeta da Tarde, do Rio de Janeiro, e O Estado de São Paulo, da capital paulista, além de ser o fundador dos jornais barretenses O Sertanejo, a Folha de Barretos e o Correio de Barretos. Poeta talentoso, seus versos arrancaram elogios de ninguém menos que Machado de Assis, Alberto de Oliveira e Raymundo Correia. Um poema seu, intitulado A Escravidão, foi classificado por José do Patrocínio, patrono da abolição, como uma obra prima.

São parentes de Silvestre de Lima pessoas bastante conhecidas em Alpinópolis, como a professora e escritora Maria Conceição Lima (Conceição do Zé Barba), os saudosos Sebastião Domingos de Lima (Tiãozinho da Serra) e Joaquim Gonçalves de Lima (Fiico Alvim – o Bola), segundo relata o historiador José Iglair Lopes, que dedicou um capítulo de sua obra História de Alpinópolis ao célebre conterrâneo.

Conceição Lima e José Gonçalves de Lima publicaram, no início deste ano, o livro Silvestre de Lima – Uma mente muito além de seu tempo, biografia com conteúdo crítico e analítico, na qual é contada “uma história de afeto e carinho, a respeito da vida do grande poeta e jornalista Coronel Silvestre de Lima”.

Ele nasceu em 31 de dezembro de 1859, no então arraial de São Sebastião da Ventania, filho de Vicente Gomes Lima e Francisca Miquelina de Lima. Estudou inicialmente em sua terra natal, depois em Carmo do Rio Claro, no Colégio Padre Jones Nery de Toledo Lion, onde foi aluno destacável e já revelava suas tendências à arte da poesia. Em 1877, foi levado por seu pai para estudar Medicina no Rio de Janeiro.

Conta o historiador Osório da Rocha que Silvestre de Lima, certa vez hospedado numa fazenda no interior paulista, quando presenciou o açoitamento de um escravo, insurgiu violentamente contra seu próprio anfitrião. Na calada da noite, impressionado e insone, Silvestre passa a dar vasão à sua revolta por meio dos versos, o que na verdade era um grito de protesto, uma profissão de fé, um programa jurado de luta em favor da raça escravizada, que seria então seguido à risca até a vitória em 1888. “Eis aí uma rara casta de homens capazes de encarar, ainda que expostos a graves perigos, os ideais que os moviam”, relatou na apresentação de sua obra a professora Conceição Lima.

No Rio de Janeiro, quando estudante, ingressou no jornalismo, colaborando na Gazeta da Tarde, cujo proprietário era José do Patrocínio, onde mergulhou nas agitações da campanha abolicionista e logo se vinculou aos ideais republicanos. Foi então que escrevera seu distinto poema A Escravidão, que recebeu as melhores referências da crítica. Nas palavras de Venceslau de Queirós: “Como poema de propaganda, só conheço outro igual aos latifúndios, é A Escravidão, de Silvestre de Lima”.

Tendo se formado em Farmácia, mas sem concluir o curso de Medicina, retornou para Minas Gerais após dois anos de estudos no Rio de Janeiro. Em 1885, foi para a cidade mineira de Ituiutaba, então chamada São José do Tijuco, onde passou a predicar os ideais republicanos.

Pelos idos de 1880, portanto antes de iniciar sua vida pública e profissional, corria a história de que Silvestre de Lima havia matado, a tiros, o próprio tio Pedro Gomes de Santana. O caso rendeu um processo, o qual é detalhado na obra de Conceição Lima, cujo desfecho foi a absolvição do acusado pelo conselho de sentença, em abril de 1891. Consta que, ao sair do tribunal onde foi julgado, em Passos, Silvestre de Lima foi recebido por inúmeras pessoas, que vitoriavam, acompanhando-o pelas ruas até a casa de um parente seu.

No mesmo ano do julgamento mudou-se para Barretos, no interior de São Paulo, localidade em que residiu por longo período. Ali montou uma farmácia em sociedade com João Teles e, quatro anos depois, se casou com Nazária Isaura de Lima, com quem teve oito filhos: Afra, Chloé, Ema, Anete, Plínio, Silvestre Filho, Múcio e Vicente. Nesta cidade, além de se dedicar ao comércio de fármacos, exerceu também as funções de Curador Geral de Órfãos e Promotor Público Interno e, até mesmo, de advogado. Não tardou em se integrar, de forma intensa, ao movimento político barretense. Daí em diante ocupou os cargos de vereador, presidente da Câmara, prefeito e deputado estadual. Esta última função, renunciou em 1903, quando da eclosão do movimento conhecido como Dissidência. Recebeu também a patente de Coronel da Guarda Nacional.

Cansado da política, que só lhe dera dissabores e desenganos, e necessitando dar sequência aos estudos de seus filhos, mudou-se para São Paulo, em 1918. Na capital paulista, fundou o Colégio Minerva, em que muitos moradores de Barretos foram estudar. Integrou-se também no corpo de redatores de O Estado de São Paulo, e aí dirigiu, durante algum tempo, a secção ‘Notas e Informações’, a famosa página de editoriais do grande órgão da Imprensa Paulista.

Silvestre de Lima morreu no dia 16 de setembro de 1949, aos 90 anos de idade. Sobre seu passamento foi veiculado um longo obituário no jornal O Estado de São Paulo, cujo texto exaltava suas qualidades como jornalista. No Diário do Congresso Nacional, foi publicada uma moção, de autoria do deputado Aureliano Leite, que trazia exaltação dos feitos na carreira política e profissional do colega falecido.

Referências Bibliográficas:
LIMA, José Gonçalves de. Silvestre de Lima: uma mente muito além de seu tempo/José Gonçalves de Lima; Conceição Lima. – Ribeirão Preto (SP): Ed. Do Autor, 2017.
LOPES, José Iglair. História de Alpinópolis: nos séculos XVIII, XIX e XX, até 1983/José Iglair Lopes; colaborador: Dimas Ferreira Lopes. – Belo Horizonte: O Lutador, 2002.

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