Festa do Reinado chega a sua 191ª edição em Alpinópolis

É fim de ano na Ventania. Época maravilhosamente envolvida por uma aura festiva, quando a cidade testemunha uma deslumbrante explosão de cores e cantos, algo difícil de ser descrito. Mas, para explicar a arte nada melhor que a própria arte. Assim, vale invocar os versos do saudoso poeta Fiico Alvim, o Bola, para expressar tanta beleza e emoção: “…como está linda minha Ventania, terra de meus amores…”.

Terno Verde Amarelo – 1967
Foto: Luiz Roberto de Morais

É a temporada dos festejos natalinos e preparativos para o novo ano. Para muitos é a data de dedicação ao folclore e à religiosidade da Festa do Reinado, que já chega ao seu 191º ano de existência. É incrível pensar que há tanto tempo, os ternos de Congo e Moçambique já desfilavam pelas ruas, alegrando o Natal do então arraial de São Sebastião da Ventania.

Terno do Lelé – 1972
Foto: Luiz Roberto de Morais

HISTÓRIA

Segundo conta o historiador José Iglair Lopes, as festividades de Natal, Ano Novo, Semana Santa e Festas Juninas, são preservadas em Ventania desde 1828, quando foi fundada a Irmandade Nossa Senhora do Rosário. Notadamente no final do ano, o folclore e a religiosidade são manifestados com muito simbolismo pelos ternos de Congo e Moçambique, Pastores, Pastorinhas e Cavalhada.

Cavalhada 1971
Foto: Luiz Roberto de Morais

IRMANDADE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO

A irmandade Nossa Senhora do Rosário foi fundada em 1828 por João Alves de Figueiredo (genro de D. Indá) com a finalidade de organizar a Festa do Reinado no arraial. A Capela do Rosário, supostamente construída no mesmo ano de 1828, foi erigida ao fundo do Largo (onde hoje é a residência do Léo do Posto) com a frente voltada para a antiga Capela de São Sebastião, sendo erguido um cruzeiro entre as duas igrejas.

Festa do Reinado de 1916

Era nesse espaço, em volta do tal cruzeiro, que ocorriam os antigos festejos. A irmandade foi composta durante toda sua existência por nomes ilustres da história alpinopolense como José Jacinto Ribeiro, Antônio Gonçalves de Moraes, Quirino dos Reis, João Francisco de Faria e Justino José Moreira.

A FESTA

A Festa do Reinado faz parte da história de Alpinópolis. Tradicionalmente a abertura oficial do evento ocorre no dia 24 de dezembro com a Missa do Galo, quando alguns ternos de Congo já saem em cortejo pela cidade após a cerimônia. São quatro dias de uma intensa festança que concentra um dos maiores números de congadeiros e moçambiqueiros do estado de Minas Gerais. São sete ternos de Congo e três de Moçambique que envolvem mais de 30 pessoas na coordenação.

Terno Augusto Belizário – 1974
Foto: Luiz Roberto de Morais

TRADIÇÃO

Existem antigas regras e rituais que norteiam a realização da festa, como as procissões, as passagens das coroas, a chamada dos irmãos de mesa com a reza do terço, a escolta dos reis e rainhas e o levantamento dos mastros. Todos os dias, exceto o 25, são servidos almoços, jantares e “agrados” para os componentes dos ternos.  A tradição de alimentar os participantes da festa é um costume muito antigo na cidade. O festeiro, como é chamado o ofertante do banquete, geralmente é motivado a fazê-lo em função do pagamento de uma promessa ou mesmo por amor ao folclore e à religiosidade.

Almoço de Congo – 2005

COORDENAÇÃO

O coordenador José Acácio Vilela explica que o Reinado é a mais antiga e tradicional festa da Ventania e uma de suas funções é afirmar os valores culturais e religiosos dos alpinopolenses.

Terno Rosa – 1973
Foto: Luiz Roberto de Morais

“Estou envolvido no evento há mais de 22 anos, desde quando herdei o cargo de governador de meu pai. Interessante é ver como a festa cresce a cada ano e como o povo se identifica de fato com ela. As pessoas que hoje participam dos festejos já viram seus pais e avós participando em outras épocas e sabem que seus bisavós e tataravós também o fizeram em tempos muito antigos. Essa gente faz questão de manter nossa tradição. A verdade é que a Festa do Reinado se confunde com a própria história de Alpinópolis”, afirma o governador.

Terno Vermelho – 1996
Foto: Luiz Roberto de Morais

 OS BALUARTES DO REINADO 

Jamais pode ser esquecido que a tradição sempre se manteve pela dedicação de pessoas abnegadas e voltadas à cultura popular, dentre elas podemos citar José Herculano Freire (Pilúcio), Vicente Vilela Lemos, José Custódio, Benedito Cesário do Carmo, Dionésio Gonçalves, Aurora Magnólia de Morais, Alípio Pio, José Borges de Paula (Deco), Afonso da Silva Leite, Tião Maia, Geraldo Freire (Geraldo do Pilúcio), Leonaldo Cândido da Silveira (Léo do Posto), Maria Borges, Antônio Américo (Boca Seca), Sudário Teófilo de Castro, Noé Moreira da Silva, João Belmiro, Augusto Belizário, José Vicente da Silva (Batatinha), José Vieira, Benedito Natalino Rodrigues Duarte (Taé Carioca), entre tantos outros. 

Terno Amarelo – 1981
Foto: Luiz Roberto de Morais

MARIA BORGES

A principal ausência do Reinado de 2019 será a da senhora Maria Borges de Paula, falecida no início do ano.

Maria Borges de Paula

Por décadas Maria Borges ocupou os postos de governadora dos reis e rainhas da festa e de guardiã da bandeira do Terno Branco de Moçambique.

Pastorinhas
Foto: Luiz Roberto de Morais

BALTAZAR VICENTE

Essa que foi uma das figuras mais marcantes da Festa do Reinado, participou dos festejos pela primeira vez com apenas sete anos de idade, dançando em um terno de Moçambique. Logo, aos 14 anos, sentiu no coração que seu lugar era mesmo na congada e pra lá se transferiu. Em menos de seis anos como congadeiro, já assumiu o terno como capitão e assim ficou por mais de 65 anos, com muita fé e dedicação. Baltazar Vicente faleceu em 20 de junho de 2017, com 86 anos, deixando uma lacuna na história cultural de Alpinópolis.

Capitão Baltazar Vicente
 Referência Bibliográfica: LOPES, José Iglair. História de Alpinópolis: nos séculos XVIII, XIX e XX, até 1983/José Iglair Lopes; colaborador: Dimas Ferreira Lopes. – Belo Horizonte: O Lutador, 2002.