Ana Teodora de Figueiredo, conhecida por Dona Indá, ao lado de seu marido, o alferes José Justiniano dos Reis, podem ser consideradas as mais relevantes figuras da história de Alpinópolis, já que foram responsáveis pela doação do terreno onde nasceu e cresceu o município. Além disso, da união deste casal, surgiram as principais famílias que, ainda hoje, povoam essa simpática cidade mineira.
Dona Indá, nascida aos 24 de julho e batizada aos 6 de agosto de 1775, em Aiuruoca/MG, era filha do capitão José Alves de Figueiredo e Maria Vilela do Espirito Santo, sendo bisneta de Diogo Garcia e Júlia Maria da Caridade. Essa última era uma das “3 Ilhoas”, que foram três irmãs portuguesas, do Arquipélago de Açores, que imigraram para o Brasil, por volta de 1723, fixando residência em Minas Gerais, onde acabaram se tornando troncos de antigas, tradicionais e importantes famílias.
Em 1797, em Carmo da Cachoeira/MG, Dona Indá se casou com o alferes José Justiniano Dos Reis, nascido em 1773 e batizado em 12 de outubro do mesmo ano, em Borda do Campo, (atual Barbacena) e falecido aos 21 de maio de 1809, em Alpinópolis. Dessa união nasceram os filhos: Manoel Justiniano dos Reis, Maria Justiniana dos Reis, Inocência Teodora de Figueiredo, Bernardino José dos Reis, José Justiniano dos Reis, Quirino José dos Reis e Isaac Vilela dos Reis (Capitão Isaac).
O casal fez a doação das terras para o patrimônio da Capela de São Sebastião da Ventania, conforme documento assinado em 12 de fevereiro de 1807. Hoje, graças ao espírito empreendedor e visionário de ambos, que almejaram um futuro promissor para aquela Fazenda Ventania, Alpinópolis é um dos 853 municípios do estado de Minas Gerais.
O povoado, primeiramente, se tornou um arraial, depois uma freguesia, logo em seguida um distrito e, por fim, no ano de 1938, um município emancipado, sendo agora conhecido pelo seu principal ponto turístico: o “Monte das Oliveiras”.
Dona Indá era uma senhora ilustre que, após a morte do marido, passou a cuidar dos negócios e se tornou uma das maiores proprietárias de terras da região, sendo referência para todos os moradores da Comarca do Rio das Mortes, nos longínquos Sertões de Jacuí, denominação antiga que tinha essa região.
Em 1933, padre Vicente Bianchi realizou um censo urbano, cuja análise permite compreender como o arraial de São Sebastião da Ventania era naquela época, trazendo informações sobre a divisão das ruas, a quantidade de moradores, suas idades e os locais onde residiam, entre outras coisas. Durante esse levantamento foi possível verificar que os únicos cidadãos ainda vivos que poderiam ter conhecido Dona Indá, falecida em 1862, eram: Manoel José de Faria, que estaria com 24 anos, Donária Rodrigues de Faria (Rolate) com 18 anos e Victória Maria de Jesus, com 14 anos.
Infelizmente não existe nenhuma fotografia ou quadro pintado que retrate a figura de Dona Indá. Como também não há registros documentais que façam referência a suas características físicas, se torna quase impossível especular qual seria a verdadeira aparência dessa personalidade da história alpinopolense.
No entanto, por meio de relatos de pessoas que viveram naquela época, sabe-se que Dona Indá era uma senhora muito respeitada, dona de muitas posses, incluindo um engenho de cana e cerca de 70 escravos, o que a qualificava como uma grande capitalista de seu tempo. Há informações de que ela, inclusive, chegou a socorrer muitos fazendeiros da região, realizando empréstimos para que estes pudessem saldar suas dívidas.
Em 1832, Dona Indá foi recenseada no arraial da Ventania, em uma casa localizada no 5º quarteirão, onde moravam Quirino Isaac; Justino e Carlota (indigentes) e mais 41 escravos. Era vizinha dos filhos casados Bernardino José dos Reis e José Justiniano dos Reis e de Antônio José da Silveira, juiz de paz do arraial. A casa de Dona Indá ficava aos fundos do Largo da Matriz, abrangendo o espaço onde, atualmente, fica a residência de Leonaldo Cândido da Silveira, o Léo do Posto, assim como o terreno vizinho, de propriedade de Nilton Alves Reis (Nilton Argola).
Em 1860, Dona Indá, já com 84 anos, ficou doente e desmemoriada, ocasião em que foi nomeado o filho caçula, o capitão Isaac Vilela dos Reis, como seu curador. Assim, foi feita a abertura do inventário, que somente foi encerrado em 26 de maio de 1862, pouco depois de sua morte, sendo o mesmo concluído por sucessão.
Em uma segunda-feira, 9 de junho de 1862, faleceu Dona Indá. Seu sepultamento ocorreu no dia seguinte, no antigo Cemitério Paroquial, localizado onde hoje fica a Praça José de Carvalho Faria, a Praça do Rosário. Durante a cerimônia fúnebre, devido à importância da defunta, compareceram ao arraial, além do vigário local, párocos de Passos e de Carmo do Rio Claro.
HOMENAGENS
A rua que atualmente leva seu nome tinha outra denominação, conforme o censo do Padre Vicente em 1933. Naquela época, a rua se chamava João Pinheiro, agraciando o político, advogado e industrial brasileiro, que comandou o Governo de Minas.
No entanto, a nobre matriarca, de enorme importância para a cidade de Alpinópolis, somente recebeu essa homenagem no mandato do prefeito Eloy de Faria Filho, o Loíto, por meio da Lei 639, de 18 de fevereiro de 1970. Foi a partir dessa data que o logradouro passou a se chamar Rua Dona Indá.
Também existe a Escola Estadual Dona Indá, estabelecimento de ensino que recebeu oficialmente esse nome através da Lei 7.329/78, cuja publicação foi realizada no Diário oficial de “Minas Gerais” em 1º de agosto de 1978. A construção do prédio onde funciona a referida escola, que foi concluída em 1981, resultou dos esforços conjugados das duas forças políticas locais: o grupo do ex-prefeito Antônio José de Freitas e o grupo do então prefeito Osvaldo Américo dos Reis. Anterior a isso, em 1956, conforme dados estatísticos colhidos por Sebastião Cardoso, existiu uma escola com o nome Escola Dona Indá, cujo responsável (diretor) era Joaquim Alves Batista.

Fantasia Destaque de Dona Indá
Carnaval 1986
O carnaval alpinopolense do ano de 1986, período em que existiam desfiles carnavalescos na cidade, rendeu suas homenagens a Dona Indá. O Grêmio Recreativo Escola de Samba “Vem Quem Qué”, com o samba enredo intitulado “Homenagem a Dona Indá” –composição de Marco Antônio Soares Reis e Geraldo Alvarenga–, levou à avenida um pomposo desfile com carros alegóricos, destaques e fantasias temáticas, tudo agraciando, de forma bastante justa, a fundadora de Alpinópolis.
Referências Bibliográficas:
LOPES, José Iglair. História de Alpinópolis: nos séculos XVIII, XIX e XX, até 1983/José Iglair Lopes; colaborador: Dimas Ferreira Lopes. – Belo Horizonte: O Lutador, 2002.
SOUZA, Juliano Pereira de. Caminhando pela História: um passeio pelas ruas / Juliano Pereira de Souza. – Juiz de Fora, MG: Editora Garcia, 2021.