Curtindo a vida até debaixo d’água

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Difícil achar alguém que não goste de viajar. Já quem aprecie a prática do mergulho, é um pouco mais raro de encontrar. Não são muitos os que gostam de viajar e mergulhar. Depois dos 60 então, são bem escassos. Pois aqui na Ventania há gente assim. E não é gente desconhecida não. Trata-se da nossa colaboradora e consagrada professora Valdete Aparecida dos Santos Ribeiro. Em uma agradável entrevista ela nos conta detalhes sobre sua paixão pelas viagens e pelo mergulho, mostrando como tudo isso pode ser feito, com muita disposição e prazer, após os 60 anos. Dessa vez não falaremos de Português nem de Literatura. O assunto é esse esporte ao qual ela vem se dedicando e, principalmente, a necessidade de as pessoas se mexerem (e sonharem!- como ela diz) depois das 60 primaveras.

Deixemos para outra sessão a Língua Portuguesa e falemos sobre suas viagens e a respeito do esporte ao qual vem se dedicando: o mergulho.

É claro! Aliás, é um assunto que me dá muito prazer.

Comecemos pelo começo. O que é preciso fazer para se tornar um mergulhador?

Para começar, é preciso fazer um curso com algum instrutor habilitado.

Você fez?

Fiz, sim. Tive dois instrutores: Gilberto e Denise, da Acquaminas Escola de Mergulho, de Passos.

Como é o curso?

Eu tive 12 horas de aulas teóricas em Passos, mais ou menos 15 horas de aulas na piscina do Clube Náutico e fiz 5 mergulhos como prova para eu conseguir a carteirinha de habilitação.

É preciso ter carteirinha para mergulhar?

Se você precisar contratar alguma empresa de mergulho- para levá-lo de barco até os pontos de mergulho no mar, ou para locar equipamentos como colete, regulador de ar, cilindro, por exemplo- é necessário apresentar a carteirinha. Caso contrário, a empresa não aceita o contrato.

E se a pessoa quiser mergulhar sozinha?

Há uma lição que foi a última que o Gilberto me passou: “Nunca mergulhe sozinha, mas saiba fazê-lo”. Durante o curso, fala-se muito na segurança. E uma das normas de segurança inclui não mergulhar sozinho.

Além disso, para mergulhar sozinha, a pessoa precisaria ter o equipamento completo, não é?

Claro! E, se a pessoa vai mergulhar em algum ponto longe, para cujo deslocamento ela precisa de avião, por exemplo, fica difícil, mesmo que ela tenha todo o equipamento, levá-lo na bagagem, até porque há um peso máximo que o viajante pode carregar no avião. Então, os mergulhadores acabam levando só o básico(macacão de neoprene, máscara, snorkel e nadadeiras), deixando o resto para locar no ponto onde vai mergulhar. Aí, ela precisa contratar uma agência e todas elas exigem a carteirinha.

Então, não é possível fazer mergulho sem fazer o curso e tirar a carteira de habilitação?

Para as pessoas que querem experimentar, existe o mergulho de batismo.

O que é esse mergulho?

A pessoa faz algumas horas de aulas antes de entrar no mar ou rio, para ter uma noção básica. Depois, ela mergulha, geralmente com um instrutorsegurando-a pela mão ou pelo colete.

Falemos agora das viagens. Você acaba de chegar de Fernando de Noronha, certo?

Sim.

Você foi por alguma agência de turismo?

Não. Agendei tudo por conta própria. Voos, pousada, agência de mergulho… Tudo pela internet.

E o que achou de lá? Mergulhou muito?

Lá é, realmente, um paraíso. A impressão que dá é que todos sabem que ali é dos bichos e nós, humanos, só estamos lá para vê-los. Então, respira-se respeito pelos bichos por todos os poros. Quanto aos mergulhos, fiz quatro, todos muito bons.

Qual é a sensação de estar no fundo do mar?

Não sei explicar. Mas veja: eu estava a doze metros de profundidade, olhei para cima e vi o céu. Como explicar isso?

Realmente, é difícil. Mas, diga: é verdade que você nadou com tubarões?

Nadei com tubarões, tartarugas, arraias e um monte de peixes que nem sei classificar. Ah! E vi uma moreia também.

Não teve medo?

Todo mundo faz essa pergunta. E a resposta é: medo de quê? Todos os animais que estão no fundo das águas só atacam se forem molestados. E nenhum mergulhador vai molestar qualquer animal que seja. Então, o perigo de ser atacado por um animal no fundo do rio ou do mar é praticamente inexistente.

Mas há algum perigo que não seja esse?

Há. Se o mergulhador, por exemplo, não souber conferir a quantidade de ar de que dispõe, por exemplo. Se subir à tona depressa demais. Se não tiver controle de respiração… Mas é para evitar esses riscos que a gente precisa fazer o curso. Se você pensar, vai descobrir que há muito poucos acidentes com mergulhadores. Pouquíssimos!

É verdade! Mas, vamos a outro assunto que é tema da entrevista: quando você fez o curso?

Eu ganhei o curso de meu filho Danilo. Ele já tinha feito e eu estava me mordendo de vontade de fazer também. Então, fiz depois que ganhei dele, já com 60 anos.

É isso que eu queria que você dissesse. Então, com 60, em vez de sentar diante da TV e fazer crochê, você foi fazer curso de mergulho?

Eu me sento diante da TV também e faço crochê, mas, de vez em sempre saio para mergulhar: no rio Grande, no mar, onde der.

O que representa o verbo “viajar” em sua vida?

A resposta é simples. Algumas pessoas gostam de roupas de marca, outras gostam de carros moderníssimos. Eu gosto de viajar. Viajei muito pouco ainda. Estou tentando conhecer o Brasil.

Próximos destinos…

Nós (meu marido e eu)  não podemos pagar viagens caras. Então, marco um destino e fico na internet por semanas e semanas procurando a passagem mais barata, o hotel mais em conta… Quando encontro alguma coisa que fique dentro nosso orçamento, marco a viagem. E, vou lhe dizer uma coisa: se não for assim, a gente não viaja. Se deixar para marcar muito perto da data de partida, a gente sempre acha que não dá, que o dinheiro está curto, que as circunstâncias não permitem… Quanto ao próximo destino, tenho quatro: Lençóis Maranhenses, Foz do Iguaçu, Morro de São Paulo e Bonito.

Todos para este ano?

Eu gostaria que fossem todos pra já, mas não sei se vai dar. Depende muito do preço. Às vezes, é preciso deixar um ou dois para o ano seguinte.

Você acha que pode ser um exemplo para as pessoas que têm mais de 60?

De jeito nenhum! Há muita gente, com 60 ou mais, que é muito produtiva e muito cheia de vida aqui em Alpinópolis mesmo.

Concordo, mas nenhuma começou a mergulhar depois dessa idade.

É verdade. Eu, pelo menos não conheço ninguém, mas vou lhe dizer por quê: é porque ninguém descobriu o prazer de submergir, de ficar flutuando num mundo que não é nosso, de ver animais em seu habitat, enfim, de entrar numa comunhão total  com a natureza. No dia em que descobrirem isso, vamos ter um bando de vovôs e vovós fazendo curso de mergulho.

Sua frase final…

Eu acho que a vida é muito curta. Então cabe à gente fazê-la valer a pena. Depois de uma certa idade, as pessoas costumam se fechar em casa. Costumam se fechar para a vida. Isso não é bom. É necessário sair da zona de conforto em busca do outro, dos lugares, dos sonhos. É preciso sonhar.

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