Banalização da violência em Alpinópolis

EDITORIAL

Uma das últimas tragédias alpinopolenses fechou sua conta macabra com o recente falecimento de Rafael Clímaco dos Passos, vítima da chacina ocorrida no feriado de 20 de janeiro, dia de São Sebastião. Mais uma vez Alpinópolis estampa negativamente as capas de jornais e ganha lugar nos principais noticiários radiofônicos, televisivos e eletrônicos da região. A população está entristecida e escandalizada.

Esse tipo de fatalidade certamente choca o cidadão. Mas e as demais ações criminosas, que lugar ganharam no ranking da indignação do alpinopolense? Lamentavelmente não no patamar que deveriam e, a impressão que fica, é que o povo de Alpinópolis está se acostumando com a criminalidade. Parece que já não basta um “simples” furto a residência ou um “mero” assalto a mão armada para nos deixar boquiabertos, como era praxe acontecer antigamente aqui em nosso pacato arraial. A violência vem tornando-se banal na Ventania.

Talvez a culpa nem seja somente da assustadora rotina de atos violentos que vem assolando nossa cidade nos últimos tempos, mas de como isso tem repercutido entre os cidadãos. Teria a imprensa, os meios de comunicação de massa, sua parcela de culpa? Será que com a intenção de sacudir as audiências para tentar despertar o povo do torpor que se encontra, a mídia não está produzindo efeito oposto? O povo está se acostumando com essas doses maciças de violência, arbítrio, terror e intimidação e já não se importa mais com crimes considerados “pequenos”. É possível que essa rotina criminosa que estamos vivendo somada à avalancha contínua de narrativas violentas esteja conseguindo, de fato, nos assustar, intimidar, porém, consequentemente, acaba por nos tornar mais dóceis e submissos, prontos a aceitar “crimes pequenos” como algo natural e próprio dos novos tempos.

Dentro dessa equivocada assimilação dos fatos, parece que apenas ações de extrema violência como execuções a tiros ou a facadas, explosões de bancos que matam garotinhas ou decapitações conseguem provocar indignação ou perplexidade na gente da Ventania. Isso indica que, lamentavelmente, solidifica-se em nossa cidade o perigoso processo de banalização dos pequenos delitos. A impressão é de que estamos desenvolvendo um espírito de conformismo e que, como um drogado, precisamos de bocados cada vez maiores de violência para reagir.

É momento de rever conceitos, de romper tabus e passar a dialogar em família sobre o grave momento que a comunidade passa. É preciso aquecer o assunto e começar a analisar que tipo de providências as autoridades tem tomado para sanar o problema da violência em Alpinópolis. Para obter algum tipo de resultado é fundamental levantar o debate, provocar o poder público a se manifestar e, se necessário, mudar os rumos, passando a gastar melhor o dinheiro de nossos impostos. Se nada fizermos e aceitamos passivamente essa nossa perigosa condição de “acomodados” estaremos, em realidade, estendendo um tapete vermelho para que bandidos sitiem nossa cidade.

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